O “até já” ao 35
Depois de 10 anos em Lisboa, o 100 Maneiras serviu ontem as últimas refeições no número 35 da Rua do Teixeira. Inaugurado em Janeiro de 2009, este foi o primeiro 100 Maneiras em Lisboa. Depois do encerramento do 100 Maneiras, em Cascais, Ljubomir Stanisic trouxe para a capital o primeiro restaurante a servir um menu degustação a preços acessíveis, provocando uma pequena revolução na cena gastronómica da cidade, democratizando a ideia de “fine dining”.
Com apenas 30 lugares sentados, o pequeno restaurante localizado no coração do Bairro Alto cedo ganhou o seu prato de assinatura, o único a manter-se em todos os menus (que mudavam sazonalmente): o Estendal do Bairro, inspirado pelos estendais de roupa colorida que marcam as janelas deste bairro. A esta imagem, Ljubo juntou o traço de Siza Vieira, o arquiteto português mais famoso de sempre, e a pala do seu Pavilhão de Portugal. O resultado foi um mini-estendal onde, com pequenas molas coloridas, se estendem chips do peixe mais “português” de todos: o bacalhau.
Foi o renascer da “Fénix”. Aqui, o cozinheiro de origem jugoslava voltou a criar, reergueu-se das “cinzas” da falência do primeiro 100 Maneiras. Pouco mais de um mês após a abertura de portas, a 28 de Fevereiro de 2009, o saudoso crítico e jornalista David Lopes Ramos, foi dos primeiros a escrever sobre o regresso de Ljubo à cozinha: “Ele é um dos mais talentosos e imaginativos chefes de cozinha da nova geração a trabalhar em Portugal e um jantar recente no novo 100 Maneiras confirmou-o em toda a linha.”
Com os anos, foram-se somando também os prémios: para o restaurante, presença constante nas listas dos melhores da cidade; para o chefe, vencedor do Prémio Gastronomia David Lopes Ramos, em 2016 e reconhecido como Personalidade do Ano na Gastronomia 2017, entre outros; e para o grupo (que em 2010 ganhou mais um restaurante, o Bistro 100 Maneiras), eleito Melhor Conceito/Marca, nos prémios AHRESP 2018.
Se muito se manteve igual desde a abertura – como o serviço descontraído mas profissional, que é marca do 100 Maneiras, muito também se transformou. A última década trouxe crescimento, (alguma) maturidade 🙂 e uma outra consciência a Ljubomir. Cada vez mais focado em dar a conhecer os produtos nacionais, nomeadamente o peixe e marisco que considera serem dos melhores do mundo, cada vez mais consciente da importância da sustentabilidade, privilegiando produtos menos nobres e produtores orgânicos, é visível o caminho traçado pelo chefe nos menus que foi apresentando ao longo destes 10 anos. Um caminho que continuará, dentro de poucos dias, duas portas ao lado.
Para já, o “velhinho” 100 Maneiras manterá as suas portas fechadas mas está esperado um regresso. O futuro a nós pertence. Agora somos presente. Porque é nele, no momento, no aqui e no agora, que todos os dias trabalhamos para construir o que aí vem…